POKÉMON DOOM 05

2.9.13


Capítulo 05
O GRUPO EXPEDICIONÁRIO

As reuniões que sucederam depois que Ian foi designado como novo Pastor, no qual ele teve que participar de todas elas, mesmo que sua presença só representasse uma pessoa a mais na mesa de reunião, o deixaram cansado no final do dia. Ele não conseguia entender como havia tantas coisas a serem avaliadas, como haviam tantos pontos ao redor da vila que não conhecia e como haviam tantos problemas necessitando de resolução.
Nos mais profundos pensamentos de Ian, um momento ele achava que acabaria se tornando o Pastor, quando encontrasse a mulher de sua vida, quando juntos construíssem uma família e quando seu pai estivesse bem velhinho não mais podendo exercer tão competentemente a função que lhe cabia.
Mas os eventos mudaram, uma grande responsabilidade estava agora sobre seus ombros, e o final do dia veio cobrar esse preço. Ele via sua casa começar a aparecer no horizonte, já que não ficava tão longe da Casa Central, local onde agora seria sua principal “morada”. Não demorou muito, mas a caminhada com seu pai, que agora estava um pouco mais leve, um pouco menos atarefado, mas tão preocupado como durante as reuniões foi algo que ele apreciou bastante. Desde o começo dos problemas, eles não mais estavam tendo um tempo de pai e filho, e pelo menos a caminhada, já ajudava a unir mais esses laços que eles tanto prezavam.
Seus Pokémons acompanhavam mais atrás, interagindo entre eles, já que por sempre estarem juntos, desenvolveram uma relação de parceria também muito grande, como grandes amigos, irmãos. Ao chegarem a frente, Ian observou a bela casa perolada, sendo recebido por um belo jardim bem cuidado e com lindas espécies de flores das colorações mais variadas.
Ao entrarem, os dois caíram sob a cadeira da sala e foram bombardeados por Paola, a mãe de Ian e esposa de Wilson, sobre os comentários que rolavam por toda a vila e ficou indignada por não poder comparecer as reuniões e por Wilson ter feito Ian participar das decisões, nas quais ela sabia que necessitava de muita experiência e responsabilidade, dois fatores que faltavam em alguns momentos para Ian, pelo seu impulso de aventura.
Eles então passaram um bom tempo descansando e explicando a Paola tudo que havia acontecido, desde os problemas com os Tauros, a morte do Oddish, até a nomeação de Ian como Pastor, o que a deixou muito preocupada e orgulhosa. Chamando Wilson de inconsequente e desejando a Ian toda a sorte do mundo.
Paola não deixou a conversa morrer naquele momento, e levou os dois para a cozinha, da qual exalava deliciosos odores proporcionados pelo delicioso banquete que ela havia preparado.
- Já que eu não pude estar na reunião, pensei que vocês pudessem estar com um pouco de fome. – Olhando de soslaio para os dois, aproximou-se do seu companheiro Jigglypuff, um Pokémon com pelos belissimamente cuidados, de uma coloração rosada brilhante e belos e grandes olhos azuis turquesa.
Os pratos de carnes estavam exalando doces e acentuados aromas por toda a cozinha e as frutas estavam com cores que aumentavam a sua Possível suculência, adoçando ainda mais o seu sabor. Os legumes, cozidos perfeitamente ao ponto, não ficando mole ou duro demais, além do delicioso suco de mistura de frutas que somente Paola sabia como realizar, o que nesta noite tratava-se de uma mistura de frutas vermelhas, podendo ser distinguível o forte gosto de acerola, morango e maçã, entre outros.
Os Pokémons ficavam em um local separada da cozinha, porém dentro da casa e se alimentavam com rações tão gostosas quanto comidas humanas, às vezes sendo compartilhada, tanto a ração, quanto a comida, pelas duas espécies de seres vivos da casa. A relação com eles sempre eram muito próximas, os Pokémons possuíam banheiros dentro da casa voltados especificadamente para aqueles que apresentassem características humanóides e aqueles com anatomia diferenciada, poderiam utilizar os arbustos na parte posterior da casa, que eram “adaptadas” e com fossas para dejetos dos Pokémons.
Após o jantar, Ian se despediu dos pais, com um caloroso “Boa noite” e abraço de seu pai e um abraço tão intenso quanto o primeiro e lágrimas que escorriam do rosto de sua mãe quando ela o beijou na bochecha.
– Meu filho, que você tenha toda a proteção que os grandes Pokémons possam te propiciar e espero que seu pai, ...– olhando de forma ameaçadora e fixa para Wilson, que, se fosse qualquer outra pessoa que não tivesse convivido por mais de 20 anos com essa mulher, teria perdido o rumo do que estivesse fazendo pelo medo que tal olhar provocava –... possa te dar o apoio tão necessário nesse momento. Que ele não deixe o fardo que tantas vezes ficou somente sobre as costas dele se acumularem na sua.
– Não se preocupe mãe – Ian respondeu, se desvencilhando da mãe, e pegando a caixa com o Selo de Celebi que eles haviam trazido e colocado em uma pequena mesa aos pés da escada, e começou a subi-las até seu quarto – meu pai ficará como Pastor “interino”, até eu conseguir toda a responsabilidade que esse cargo necessita.
Ele chegou ao quarto, colocou a caixa sobre seu criado mudo, e Charmeleon acomodou-se próximo da caixa, para protegê-la, enquanto Ian se despia e se dirigia ao banheiro, no qual passou uns bons quarenta minutos num banho quente e relaxante, deixando todo o banheiro coberto de névoa. Sua cabeça não parava de repetir toda a história que seu pai havia contado e imagens, como que retiradas de algum local, e não criadas em sua cabeça, graças a riqueza dos detalhes, começavam a ser geradas na sua mente, o mostrando como deveria ser o mundo fora da Vila Serena e como o céu parecia ameaçador e temível.
Ao voltar para o quarto, o Charmeleon estava interessado sobre o conteúdo da caixa, remexendo nele com uma pequena garra negra, de um lado para o outro, como um gato brincaria com uma bola de fios de lã. Ian vestiu-se para dormir e sentou-se do lado do seu companheiro, o acariciando na nuca, o que fez as chamas de sua cauda eriçar. Ele pegou nos seus braços o Selo de Celebi e o fica avaliando, percebendo que os olhos do seu Charmeleon também o seguiam. “Quanta responsabilidade, quanto peso esse pedaço de pano pode possuir” pensou durante alguns momentos. Por enquanto que passava entre as mãos o pano, ele sentiu um pequeno formigamento, como se este estivesse respondendo ao seu toque.
Ele foi então deitar-se, com o fundo musical do barulho intenso da chuva que começava a cair lá fora, sendo precedida de não muito raros clarões distantes que se espalhavam por todo o céu. Ele quebrou o protocolo que tanto estimava, o registro de seus sonhos no diário noturno presente na cabeceira de sua cama, que durante tantas noites foram anotados após acontecer, dessa vez teria um registro antes do sono chegar, um registro que não saia de sua cabeça. Pegou então uma pequena pena, molhou na mistura negra que promovia a impressão dos movimentos na folha de grosseiro papel e colocou a seguinte frase:

“Obrigado Celebi, ótimo, sou O Pastor, e agora?”

***

Os eventos que aconteceram após o diagnóstico da morte do Oddish somente trouxeram mais problemas para Wilson e Ian. Os moradores não diferenciavam mais as ações entre o pai ou o filho. A nomeação perante toda a sociedade fez com que os desejos que Ian possuíam em seu coração aflorassem e trouxessem para ele mais responsabilidade. A parceria com Wilson só fez melhorar e fortalecer esse sentimento, pois finalmente, ele poderia estar ao lado do pai em todos os assuntos importantes, convivendo com exemplos práticos de tudo que ele também queria desenvolver.
Quando estavam ainda providenciando os preparativos para a cerimônia de sepultamento do Oddish, mais relatos de Pokémons acometidos pela doença chegavam a Casa Central, com seus companheiros os carregando nos braços, desesperados por ajuda, mas também apareciam fazendeiros que encontravam as pobres criaturas caídas no chão, agonizando, ou traziam somente relatos de Pokémons mortos que enterraram próximos aos corpos de tantos outros que já haviam partido.
A gama de Pokémons acometidos tornou-se maior que qualquer outra peste que já houvesse atingido a população de Vila Serena, alguns começaram a chamá-la de a Peste Flavescente, já que está promove o aparecimento de manchas amareladas por todo o corpo, levando a feridas necrosadas com uma grande quantidade de pus sendo formada.
Reuniões intermináveis estavam ocorrendo na sala do Pastor e na sala dos Conselheiros, todas tentando resolver todos os problemas que apareciam, mas por mais que todos se empenhassem para promover a mais rápida solução, nada surtia efeito, pois no fim do dia, dez assuntos poderiam ter sido resolvidos, porém outros dez, senão doze, chegavam ao conhecimento do conselho e levava a todos para mais uma noite de sono mal dormida e muitas atitudes em suas cabeças para serem colocadas em práticas no dia seguinte.
Um dos casos mais perturbadores foi quando Rattatas e Raticates perderam o controle e acabaram provocando a derrubada, através de incansáveis roídas nas vigas principais de um pequeno armazém. Não era raro encontrar as pessoas que faziam parte do conselho trabalhando até altas horas da madrugada e se fazendo presentes nas primeiras horas da manhã.
Durante semanas esses eventos sempre se repetiam, eles conseguiam resolver quase todos os problemas, deixando poucos assuntos a serem resolvidos nas próximas reuniões, que agora aconteciam três vezes por semana, fato inusitado, uma vez que os conselheiros só se reuniam de forma mensal, para resolver, antes, assuntos corriqueiros, agora, com reuniões periódicas e frequentes, assuntos cada vez mais complicados eram temas recorrente de pauta.
Além dos assuntos sempre repetitivos, o tempo não estava ajudando muito, nos últimos dias uma forte onda de calor começou a atingir a todos, fazendo com que as roupas mais leves fossem vestidas e muitos Pokémons que possuem a capacidade de esguichar água faziam o favor de sugar as raras partículas da substância do ar e liberar pequenas “chuvas” durante momentos do dia, para deixar o ambiente mais suportável.

***

Mais um dia iniciava, e como de costume atualmente, este seria mais um dia com reuniões, como haviam sido tantos outros durante o ultimo mês, mas Wilson acordou um pouco mais introspectivo do que o de costume, quando desceu para tomar o café da manhã. Paola estava terminando de fritar os ovos e o bacon, com ajuda do Jigglypuff, Ian chegou logo depois dele, conversando sobre os assuntos que poderiam vir a ser discutidos durante a reunião de logo mais. O Alakazam já estava no seu local, esperando que o Jigglypuff o servisse e o Charmeleon chegou somente quando todos já estavam quase acabando o café.
– Filho, eu já te pedi para não serem comentados assuntos sobre trabalho no café da manhã, e você não está vendo, seu pai não parece esta bem, fique quieto – Paola falou quando Ian registrou a morte do Ratatta de Luana na ultima noite,  sussurrando baixinho a ultima parte da frase no ouvido de Ian, que colocou os ovos e o bacon sob a mesa para serem degustados. Wilson pareceu não desejar compartilhar qualquer atividade social até o momento e Ian percebeu que o aviso da mãe ao seu ouvido foi totalmente ignorado pelo pai, achando melhor não o atrapalhar também.
Após um café da manhã bem silencioso, sendo interrompido somente por rápidas tosses secas do Alakazam, todos se arrumaram e partiram para a Casa Central, onde Paola ficara com Rose auxiliando na organização dos registros em geral e os Pastores, como são chamados por todos no momento, partiram para mais uma reunião interminável sobre os problemas sempre crescente de Vila Serena, com previsão de término somente após o anoitecer.
Um detalhe que os chamou atenção por todo o caminho foi à falha que vinha ocorrendo na proteção de Celebi, uma vez que o céu estava demonstrando uma tonalidade bem mais escura que o normal e nada indicava que iria chover novamente, já que o clima só estava aumentando nos últimos dias e não cedia em momento algum, com aparecimento raro de nuvens.
Eles foram os primeiros a se colocarem na sala de reunião e então todos começaram a chegar, com profundas olheiras pelo trabalho incessante que vêm desempenhando. Todos se cumprimentam com acenos de cabeça e começam a conversar com os mais próximos que se sentam perto deles, esperando por todos chegarem. Cerca de dez minutos foi o suficiente para que todos se acomodassem e a reunião iniciou-se com as palavras de Ian.
Mais uma vez, horas se passaram para resolver os tantos problemas. Wilson não estava tão inspirado como de costume, suas ideias quase não foram lançadas, e durante muito tempo ele não falava nenhuma palavra se quer, a não ser quando era perguntado sobre determinado assunto. Isso fez então que Ian tomasse para si a responsabilidade de gerir toda a reunião.
As colheitas prejudicadas, o dique que havia sido infectado pelos corpos dos Pokémons mortos encontrados em sua margem, o desabamento de duas casas provocadas pela súbita revolta de alguns Diglets e Dugtrios que, como tantos outros Pokémons, após algum tempo mostravam-se estar confuso e não saber o que haviam causado, entre outros tantos eventos tão perturbadores quanto este, foram pauta da reunião e discutidos incansavelmente por todos, para chegar às melhores soluções.
Ian contava com a ajuda dos conselhos sempre bem colocados de Elisa, que mostravam uma coerência com as atitudes há qual deveriam ser tomadas, e não prejudicavam nem a vivencia normal da vila, como também não traziam grandes empecilhos àqueles que fossem atuar na resolução do problema.
Durante alguns posicionamentos do próprio Ian, alguns conselheiros não demonstravam muita aprovação, deixando em seus rostos um fio de incerteza sobre tomarem as atitudes sugeridas por ele. A sua juventude, a utopia da melhora e seu espírito sempre de liberdade eram terríveis oponentes quando se tentava convencer um grupo de experientes conselheiros de novos métodos de abordagem, Ian rapidamente percebeu isso durante as reuniões, e sentia mais forte agora, quando seu pai parecia o testar, com seu silêncio, que em certos momentos, acabava sendo constrangedor.
– Senhor Mentow, já conversamos sobre retirar o grupo de Machoke e Machamp da reconstrução das moradas que desabaram para retirar os corpos do dique, isso não acontecerá, outros Pokémons e mesmo as pessoas podem fazer isso, e está decidido. – Ian falava com uma seriedade quase não existente alguns dias antes neste mesmo garoto de feições gentis e despreocupadas, que agora começava a endurecer as responsabilidades que vinha absorvendo gradativamente de seu pai.
Peter Mentow pensou duas vezes em retrucar, sua boca mexia e remexia, mas nada saia, ele não tinha como bater de frente com o Pastor, então sentou-se emburrado novamente na cadeira se sentindo deslocado e chateado por ser aquele garoto a lhe dar ordens, a obrigar ele a escutar em silêncio uma atitude tão desnecessária, pensava ele, já que as casas se encontravam caídas, isso não traria nenhum problema em deixar por mais alguns dias algumas pessoas sem teto.
– Então, continuando os assuntos que possuímos em pauta – ele fez uma pausa e observou a janela que demonstrava que o sol deveria estar em seu ponto mais alto do céu, não gerando nenhuma sombra dentro da sala ou de qualquer outra construção da vila – gostaria que todos dessem suas ideias sobre o evento que nos foi trazido por Emerlina. Não havia chegado nenhum caso como o dela, mas vejo que uma força tarefa deverá ser formada para procurar o seu filho, uma vez que ele não passa de uma pequena criança de pouco mais de 4 anos.
Wilson finalmente começou a mostrar-se vivo dentro da reunião, de acordo com a notícia que vinha sendo lida por seu filho, ele levantou a cabeça e um olhar penetrante como fogo correu por toda a sala, observando cada rosto familiar com o qual ele convive a tantos anos, esperando que ele, ou alguém pudesse dar uma boa resposta, uma direção correta para esses problemas intermináveis que vem atingindo a todos desde o primeiro evento meteorológico estranho, ao qual, ele e Ian conseguiram relacionar com o aparecimento de Celebi para Ian, em sonhos.
Como que com um esforço terrível, ele levantou da cadeira e se colocou ao lado do filho, que até o momento não havia percebido a reanimação do pai. Wilson colocou a mão sobre o ombro do seu garoto, dando-lhe um sorriso tão raro de ser obtido nos últimos dias e se dirigindo a todos, porém a nenhum em especial.
– Teremos que sair, teremos que criar um grupo e descobrir o que vem causando essa instabilidade na proteção do Celebi. Eu guiarei o grupo e espero que alguns de vocês me sigam. – Todos simplesmente ficaram átonos com a frase e alguns segundos foram regados somente ao som de uma carroça de cereais passando do lado externo da sala de reuniões.

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