Capítulo 05
O GRUPO
EXPEDICIONÁRIO
As reuniões
que sucederam depois que Ian foi designado como novo Pastor, no qual ele teve
que participar de todas elas, mesmo que sua presença só representasse uma
pessoa a mais na mesa de reunião, o deixaram cansado no final do dia. Ele não
conseguia entender como havia tantas coisas a serem avaliadas, como haviam
tantos pontos ao redor da vila que não conhecia e como haviam tantos problemas
necessitando de resolução.
Nos mais
profundos pensamentos de Ian, um momento ele achava que acabaria se tornando o
Pastor, quando encontrasse a mulher de sua vida, quando juntos construíssem uma
família e quando seu pai estivesse bem velhinho não mais podendo exercer tão
competentemente a função que lhe cabia.
Mas os
eventos mudaram, uma grande responsabilidade estava agora sobre seus ombros, e
o final do dia veio cobrar esse preço. Ele via sua casa começar a aparecer no
horizonte, já que não ficava tão longe da Casa Central, local onde agora seria
sua principal “morada”. Não demorou muito, mas a caminhada com seu pai, que
agora estava um pouco mais leve, um pouco menos atarefado, mas tão preocupado
como durante as reuniões foi algo que ele apreciou bastante. Desde o começo dos
problemas, eles não mais estavam tendo um tempo de pai e filho, e pelo menos a
caminhada, já ajudava a unir mais esses laços que eles tanto prezavam.
Seus Pokémons
acompanhavam mais atrás, interagindo entre eles, já que por sempre estarem
juntos, desenvolveram uma relação de parceria também muito grande, como grandes
amigos, irmãos. Ao chegarem a frente, Ian observou a bela casa perolada, sendo
recebido por um belo jardim bem cuidado e com lindas espécies de flores das
colorações mais variadas.
Ao entrarem,
os dois caíram sob a cadeira da sala e foram bombardeados por Paola, a mãe de
Ian e esposa de Wilson, sobre os comentários que rolavam por toda a vila e
ficou indignada por não poder comparecer as reuniões e por Wilson ter feito Ian
participar das decisões, nas quais ela sabia que necessitava de muita experiência
e responsabilidade, dois fatores que faltavam em alguns momentos para Ian, pelo
seu impulso de aventura.
Eles então
passaram um bom tempo descansando e explicando a Paola tudo que havia acontecido,
desde os problemas com os Tauros, a morte do Oddish, até a nomeação de Ian como
Pastor, o que a deixou muito preocupada e orgulhosa. Chamando Wilson de
inconsequente e desejando a Ian toda a sorte do mundo.
Paola não
deixou a conversa morrer naquele momento, e levou os dois para a cozinha, da
qual exalava deliciosos odores proporcionados pelo delicioso banquete que ela
havia preparado.
- Já que
eu não pude estar na reunião, pensei que vocês pudessem estar com um pouco de
fome. – Olhando de soslaio para os dois, aproximou-se do seu companheiro Jigglypuff, um Pokémon com pelos
belissimamente cuidados, de uma coloração rosada brilhante e belos e grandes
olhos azuis turquesa.
Os
pratos de carnes estavam exalando doces e acentuados aromas por toda a cozinha
e as frutas estavam com cores que aumentavam a sua Possível suculência, adoçando
ainda mais o seu sabor. Os legumes, cozidos perfeitamente ao ponto, não ficando
mole ou duro demais, além do delicioso suco de mistura de frutas que somente
Paola sabia como realizar, o que nesta noite tratava-se de uma mistura de
frutas vermelhas, podendo ser distinguível o forte gosto de acerola, morango e
maçã, entre outros.
Os Pokémons
ficavam em um local separada da cozinha, porém dentro da casa e se alimentavam
com rações tão gostosas quanto comidas humanas, às vezes sendo compartilhada,
tanto a ração, quanto a comida, pelas duas espécies de seres vivos da casa. A
relação com eles sempre eram muito próximas, os Pokémons possuíam banheiros
dentro da casa voltados especificadamente para aqueles que apresentassem
características humanóides e aqueles com anatomia diferenciada, poderiam
utilizar os arbustos na parte posterior da casa, que eram “adaptadas” e com
fossas para dejetos dos Pokémons.
Após o
jantar, Ian se despediu dos pais, com um caloroso “Boa noite” e abraço de seu
pai e um abraço tão intenso quanto o primeiro e lágrimas que escorriam do rosto
de sua mãe quando ela o beijou na bochecha.
– Meu
filho, que você tenha toda a proteção que os grandes Pokémons possam te
propiciar e espero que seu pai, ...– olhando de forma ameaçadora e fixa para
Wilson, que, se fosse qualquer outra pessoa que não tivesse convivido por mais
de 20 anos com essa mulher, teria perdido o rumo do que estivesse fazendo pelo
medo que tal olhar provocava –... possa te dar o apoio tão necessário nesse
momento. Que ele não deixe o fardo que tantas vezes ficou somente sobre as
costas dele se acumularem na sua.
– Não se
preocupe mãe – Ian respondeu, se desvencilhando da mãe, e pegando a caixa com o
Selo de Celebi que eles haviam trazido e colocado em uma pequena mesa aos pés
da escada, e começou a subi-las até seu quarto – meu pai ficará como Pastor “interino”,
até eu conseguir toda a responsabilidade que esse cargo necessita.
Ele
chegou ao quarto, colocou a caixa sobre seu criado mudo, e Charmeleon
acomodou-se próximo da caixa, para protegê-la, enquanto Ian se despia e se
dirigia ao banheiro, no qual passou uns bons quarenta minutos num banho quente
e relaxante, deixando todo o banheiro coberto de névoa. Sua cabeça não parava
de repetir toda a história que seu pai havia contado e imagens, como que
retiradas de algum local, e não criadas em sua cabeça, graças a riqueza dos
detalhes, começavam a ser geradas na sua mente, o mostrando como deveria ser o
mundo fora da Vila Serena e como o céu parecia ameaçador e temível.
Ao
voltar para o quarto, o Charmeleon estava interessado sobre o conteúdo da
caixa, remexendo nele com uma pequena garra negra, de um lado para o outro,
como um gato brincaria com uma bola de fios de lã. Ian vestiu-se para dormir e
sentou-se do lado do seu companheiro, o acariciando na nuca, o que fez as
chamas de sua cauda eriçar. Ele pegou nos seus braços o Selo de Celebi e o fica
avaliando, percebendo que os olhos do seu Charmeleon também o seguiam. “Quanta
responsabilidade, quanto peso esse pedaço de pano pode possuir” pensou durante
alguns momentos. Por enquanto que passava entre as mãos o pano, ele sentiu um
pequeno formigamento, como se este estivesse respondendo ao seu toque.
Ele foi
então deitar-se, com o fundo musical do barulho intenso da chuva que começava a
cair lá fora, sendo precedida de não muito raros clarões distantes que se
espalhavam por todo o céu. Ele quebrou o protocolo que tanto estimava, o
registro de seus sonhos no diário noturno presente na cabeceira de sua cama,
que durante tantas noites foram anotados após acontecer, dessa vez teria um
registro antes do sono chegar, um registro que não saia de sua cabeça. Pegou
então uma pequena pena, molhou na mistura negra que promovia a impressão dos
movimentos na folha de grosseiro papel e colocou a seguinte frase:
“Obrigado
Celebi, ótimo, sou O Pastor, e agora?”
***
Os
eventos que aconteceram após o diagnóstico da morte do Oddish somente trouxeram
mais problemas para Wilson e Ian. Os moradores não diferenciavam mais as ações
entre o pai ou o filho. A nomeação perante toda a sociedade fez com que os
desejos que Ian possuíam em seu coração aflorassem e trouxessem para ele mais
responsabilidade. A parceria com Wilson só fez melhorar e fortalecer esse
sentimento, pois finalmente, ele poderia estar ao lado do pai em todos os
assuntos importantes, convivendo com exemplos práticos de tudo que ele também
queria desenvolver.
Quando
estavam ainda providenciando os preparativos para a cerimônia de sepultamento
do Oddish, mais relatos de Pokémons acometidos pela doença chegavam a Casa
Central, com seus companheiros os carregando nos braços, desesperados por
ajuda, mas também apareciam fazendeiros que encontravam as pobres criaturas caídas
no chão, agonizando, ou traziam somente relatos de Pokémons mortos que
enterraram próximos aos corpos de tantos outros que já haviam partido.
A gama
de Pokémons acometidos tornou-se maior que qualquer outra peste que já houvesse
atingido a população de Vila Serena, alguns começaram a chamá-la de a Peste
Flavescente, já que está promove o aparecimento de manchas amareladas por todo
o corpo, levando a feridas necrosadas com uma grande quantidade de pus sendo
formada.
Reuniões
intermináveis estavam ocorrendo na sala do Pastor e na sala dos Conselheiros,
todas tentando resolver todos os problemas que apareciam, mas por mais que
todos se empenhassem para promover a mais rápida solução, nada surtia efeito,
pois no fim do dia, dez assuntos poderiam ter sido resolvidos, porém outros
dez, senão doze, chegavam ao conhecimento do conselho e levava a todos para
mais uma noite de sono mal dormida e muitas atitudes em suas cabeças para serem
colocadas em práticas no dia seguinte.
Um dos
casos mais perturbadores foi quando Rattatas
e Raticates perderam o controle e
acabaram provocando a derrubada, através de incansáveis roídas nas vigas
principais de um pequeno armazém. Não era raro encontrar as pessoas que faziam
parte do conselho trabalhando até altas horas da madrugada e se fazendo
presentes nas primeiras horas da manhã.
Durante
semanas esses eventos sempre se repetiam, eles conseguiam resolver quase todos
os problemas, deixando poucos assuntos a serem resolvidos nas próximas reuniões,
que agora aconteciam três vezes por semana, fato inusitado, uma vez que os
conselheiros só se reuniam de forma mensal, para resolver, antes, assuntos
corriqueiros, agora, com reuniões periódicas e frequentes, assuntos cada vez
mais complicados eram temas recorrente de pauta.
Além dos
assuntos sempre repetitivos, o tempo não estava ajudando muito, nos últimos
dias uma forte onda de calor começou a atingir a todos, fazendo com que as
roupas mais leves fossem vestidas e muitos Pokémons que possuem a capacidade de
esguichar água faziam o favor de sugar as raras partículas da substância do ar
e liberar pequenas “chuvas” durante momentos do dia, para deixar o ambiente
mais suportável.
***
Mais um
dia iniciava, e como de costume atualmente, este seria mais um dia com reuniões,
como haviam sido tantos outros durante o ultimo mês, mas Wilson acordou um
pouco mais introspectivo do que o de costume, quando desceu para tomar o café
da manhã. Paola estava terminando de fritar os ovos e o bacon, com ajuda do
Jigglypuff, Ian chegou logo depois dele, conversando sobre os assuntos que
poderiam vir a ser discutidos durante a reunião de logo mais. O Alakazam já
estava no seu local, esperando que o Jigglypuff o servisse e o Charmeleon
chegou somente quando todos já estavam quase acabando o café.
– Filho,
eu já te pedi para não serem comentados assuntos sobre trabalho no café da manhã,
e você não está vendo, seu pai não parece esta bem, fique quieto – Paola falou
quando Ian registrou a morte do Ratatta de Luana na ultima noite, sussurrando baixinho a ultima parte da
frase no ouvido de Ian, que colocou os ovos e o bacon sob a mesa para serem
degustados. Wilson pareceu não desejar compartilhar qualquer atividade social
até o momento e Ian percebeu que o aviso da mãe ao seu ouvido foi totalmente
ignorado pelo pai, achando melhor não o atrapalhar também.
Após um
café da manhã bem silencioso, sendo interrompido somente por rápidas tosses
secas do Alakazam, todos se arrumaram e partiram para a Casa Central, onde
Paola ficara com Rose auxiliando na organização dos registros em geral e os
Pastores, como são chamados por todos no momento, partiram para mais uma reunião
interminável sobre os problemas sempre crescente de Vila Serena, com previsão
de término somente após o anoitecer.
Um
detalhe que os chamou atenção por todo o caminho foi à falha que vinha
ocorrendo na proteção de Celebi, uma vez que o céu estava demonstrando uma
tonalidade bem mais escura que o normal e nada indicava que iria chover
novamente, já que o clima só estava aumentando nos últimos dias e não cedia em
momento algum, com aparecimento raro de nuvens.
Eles
foram os primeiros a se colocarem na sala de reunião e então todos começaram a
chegar, com profundas olheiras pelo trabalho incessante que vêm desempenhando.
Todos se cumprimentam com acenos de cabeça e começam a conversar com os mais próximos
que se sentam perto deles, esperando por todos chegarem. Cerca de dez minutos
foi o suficiente para que todos se acomodassem e a reunião iniciou-se com as
palavras de Ian.
Mais uma
vez, horas se passaram para resolver os tantos problemas. Wilson não estava tão
inspirado como de costume, suas ideias quase não foram lançadas, e durante
muito tempo ele não falava nenhuma palavra se quer, a não ser quando era
perguntado sobre determinado assunto. Isso fez então que Ian tomasse para si a
responsabilidade de gerir toda a reunião.
As
colheitas prejudicadas, o dique que havia sido infectado pelos corpos dos Pokémons
mortos encontrados em sua margem, o desabamento de duas casas provocadas pela súbita
revolta de alguns Diglets e Dugtrios que, como tantos outros Pokémons,
após algum tempo mostravam-se estar confuso e não saber o que haviam causado,
entre outros tantos eventos tão perturbadores quanto este, foram pauta da reunião
e discutidos incansavelmente por todos, para chegar às melhores soluções.
Ian
contava com a ajuda dos conselhos sempre bem colocados de Elisa, que mostravam
uma coerência com as atitudes há qual deveriam ser tomadas, e não prejudicavam
nem a vivencia normal da vila, como também não traziam grandes empecilhos àqueles
que fossem atuar na resolução do problema.
Durante
alguns posicionamentos do próprio Ian, alguns conselheiros não demonstravam
muita aprovação, deixando em seus rostos um fio de incerteza sobre tomarem as
atitudes sugeridas por ele. A sua juventude, a utopia da melhora e seu espírito
sempre de liberdade eram terríveis oponentes quando se tentava convencer um
grupo de experientes conselheiros de novos métodos de abordagem, Ian
rapidamente percebeu isso durante as reuniões, e sentia mais forte agora,
quando seu pai parecia o testar, com seu silêncio, que em certos momentos,
acabava sendo constrangedor.
– Senhor
Mentow, já conversamos sobre retirar o grupo de Machoke e Machamp da
reconstrução das moradas que desabaram para retirar os corpos do dique, isso não
acontecerá, outros Pokémons e mesmo as pessoas podem fazer isso, e está
decidido. – Ian falava com uma seriedade quase não existente alguns dias antes
neste mesmo garoto de feições gentis e despreocupadas, que agora começava a
endurecer as responsabilidades que vinha absorvendo gradativamente de seu pai.
Peter
Mentow pensou duas vezes em retrucar, sua boca mexia e remexia, mas nada saia,
ele não tinha como bater de frente com o Pastor, então sentou-se emburrado
novamente na cadeira se sentindo deslocado e chateado por ser aquele garoto a
lhe dar ordens, a obrigar ele a escutar em silêncio uma atitude tão desnecessária,
pensava ele, já que as casas se encontravam caídas, isso não traria nenhum
problema em deixar por mais alguns dias algumas pessoas sem teto.
– Então,
continuando os assuntos que possuímos em pauta – ele fez uma pausa e observou a
janela que demonstrava que o sol deveria estar em seu ponto mais alto do céu, não
gerando nenhuma sombra dentro da sala ou de qualquer outra construção da vila –
gostaria que todos dessem suas ideias sobre o evento que nos foi trazido por
Emerlina. Não havia chegado nenhum caso como o dela, mas vejo que uma força
tarefa deverá ser formada para procurar o seu filho, uma vez que ele não passa
de uma pequena criança de pouco mais de 4 anos.
Wilson
finalmente começou a mostrar-se vivo dentro da reunião, de acordo com a notícia
que vinha sendo lida por seu filho, ele levantou a cabeça e um olhar penetrante
como fogo correu por toda a sala, observando cada rosto familiar com o qual ele
convive a tantos anos, esperando que ele, ou alguém pudesse dar uma boa
resposta, uma direção correta para esses problemas intermináveis que vem
atingindo a todos desde o primeiro evento meteorológico estranho, ao qual, ele
e Ian conseguiram relacionar com o aparecimento de Celebi para Ian, em sonhos.
Como que
com um esforço terrível, ele levantou da cadeira e se colocou ao lado do filho,
que até o momento não havia percebido a reanimação do pai. Wilson colocou a mão
sobre o ombro do seu garoto, dando-lhe um sorriso tão raro de ser obtido nos últimos
dias e se dirigindo a todos, porém a nenhum em especial.
–
Teremos que sair, teremos que criar um grupo e descobrir o que vem causando
essa instabilidade na proteção do Celebi. Eu guiarei o grupo e espero que
alguns de vocês me sigam. – Todos simplesmente ficaram átonos com a frase e
alguns segundos foram regados somente ao som de uma carroça de cereais passando
do lado externo da sala de reuniões.
Assinar:
Postar comentários
0 comentários:
Postar um comentário