Capítulo 02
A TORMENTA MÍSTICA
Uma
semana havia passado desde o incidente com os Zubats e Golbats, o assunto que
tanto se desgastou pelos dias, aos poucos foi ficando esquecido, como um sonho
ruim, que havia acontecido de forma coletiva. Os grãos tiveram a sorte de
vingar novamente no solo e estavam demonstrando que iriam crescer fortemente,
sendo assim, o ataque não havia passado de um breve susto, sem muitos problemas
para a colheita ou o armazenamento do trigo, no qual todos estavam começando a
fazer o esforço de esquecer, mesmo aqueles que se feriram, já não apresentava
mais nenhum machucado ou escoriação.
Porém,
um jovem continuava com um estranho pressentimento. Pouco antes do ataque dos Pokémons
a colheita, ele havia sonhado com algo muito estranho, uma forma negra havia
aparecido em seus sonhos, o guiado até uma luz e somente o soar de uma voz
fraca e que acariciava os ouvidos pôde ser ouvida, dizendo apenas uma palavra,
que se repetia na sua mente de forma descontrolada repetidas vezes “Ajude-me -
Ajude-me - Ajude-me”. Esse era um dos problemas que rondavam sua cabeça, mas
outro o deixava tão inquieto quanto, porém parecia que os moradores da vila
simplesmente haviam deixado para trás o segundo fato que o estava incomodando.
Sob a
sombra de uma imensa árvore de Carvalho estava um jovem de cabelos castanhos,
lisos e brilhosos, com olhos verdes de um tom esmeralda e profundidade de um
fundo marítimo. O sorriso maroto, em forma de meia lua, sempre fazia com que
garotas perdessem o fio da meada e parassem suas falas o olhando atônitas. Ele
demonstrava uma perfeita dentição, alva como o algodão, o que deixava seu
charme ainda maior quando lançava sorrisos de cinismo as mais diversas
situações. Seu Charmeleon, companheiro inseparável de todos os momentos, estava
ao seu lado, um pouco acordado, um pouco dormindo, aproveitando a brisa
vespertina que soprava e deixava o ar quente do verão mais agradável.
Deitando
um pouco na grama, apreciando a beleza do céu, os pensamentos de Ian Fauster
não desviavam do acontecimento estranho e único que ocorrerá no dia do ataque
dos morcegos. Um fato como a aurora boreal, um evento antes descrito apenas nos
livros de histórias antigas, que com certeza guardava algo sinistro em seu
acontecimento. Ian então fechou os olhos e tentou rever mentalmente a sucessão
de cores frias que pairaram no céu naquela ocasião. Flashes se mostravam diante
dos seus olhos, sons de um confronto distante também chegavam com a mesma intensidade,
uma vez que da vila pôde ser escutado toda a batalha nos campos da colheita.
Subitamente
o garoto entrou em um estado de torpor induzido, sentindo seu corpo pesado, as
pálpebras carregadas por toneladas de concreto, o levaram a cerrar os olhos e sua
a consciência desvaneceu aos poucos de sua mente. Ele encontrava-se num breu
total, tentando realizar algum movimento, mas seu corpo não seguia ao seu
comando, sua voz não saia de sua boca e seus braços e pernas não pareciam se
quer existir. Quando o desespero tomou conta de seu ser, mas antes que a
loucura também o dominassem uma forte luz branca brilhou a alguns metros diante
dele, uma luz que de início o cegou, mas com a adaptação da intensidade, foi
tornando-se sua libertadora. Seu corpo voltou a se movimentar e por toda a
extensão do local onde se encontrava, ele escutou o eco de sua voz ressoar “Olá
(olá, olá, olá), quem está ai (ai, ai, ai)?”.
Nenhuma
resposta foi obtida durante a dissipação do som provocado, mas uma nuvem
esverdeada tomou forma em frente aos olhos do jovem, uma forma pequena, que não
ultrapassava do tamanho do antebraço do rapaz. Essa nuvem de poeira não tomou a
forma de qualquer corpo, flutuando, somente, como uma pequena e controlada
tempestade de folhas e galhos. Intrigado com o evento, Ian esticou sua mão para
encontra-se com a mini tempestade, mas ela recuou rapidamente e rodopiou por
volta do menino, fazendo seus cabelos esvoaçarem e ele ser forçado a fechar os
olhos, como reflexo ao vento intenso.
Com os
olhos cerrados, Ian sentiu algo se aproximar do seu ouvido, dando um salto para
tentar desvencilhar-se da tormenta e ver o que estava acontecendo, ele abriu os
olhos mas não havia mais nada para se observar. A luminosidade que antes
existia, havia novamente sido tragada para a escuridão, os movimentos que antes
estavam graciosos e fáceis de serem realizados, começaram a endurecer e se
tornarem estáticos. Um último lampejo de voz foi forçado a externar, mas apenas
um grunhido sem sentido saiu da boca de Ian, o levando ao desespero novamente.
Ele era
o tipo de garoto que passava muito tempo parado, calculando suas ações e
consequências, mas não gostava de ficar inerte em um local, sem poder ser peça
atuante e modificante do meio que o cerca, e ficar nesse estado, em completa
inércia, o fazia perder o juízo. Pensando com todas as suas forças, lutando com
cada energia que conseguia reunir do seu interior, ele extravasou todo o
sentimento em um grito, grave e voraz, de desespero, assim como um animal
acuado, sem saída e proteção.
O grito
ecoou novamente por todo o aposento, e dessa vez, uma figura flutuando no ar,
em tons de verde, com grandes olhos azuis, duas pequenas antenas em sua face
que se projetava em direção ao cabelo, espetado e de um tom mais escuro de
verde, apareceu em sua frente, inundando todo o ambiente com uma aura mística.
Seu semblante mostrava que ele estava muito cansado, sem forças, pronto para
desistir, mas sua aura trazia proteção, reconforto, saúde, todos os sentimentos
bons de uma só vez, o que fez com que um leve sorriso aparecesse nos lábios de
Ian.
– O que,
... quem é você? – Ian perguntou no primeiro instante que seus olhos se
cruzaram.
O
pequeno ser simplesmente o olhou e mais uma vez a luminosidade foi tornando-se
mais fraca e tremeluzente, ele começou a desvanecer e flutuar de encontro ao
chão, mas Ian correu e o segurou no colo. Ele não deixaria a escuridão tomar
conta do local novamente. Ao segurar o pequeno ser no colo, ele olhou nos seus
olhos, um momento fugaz que fez com que todos os pelos do corpo de Ian
arrepiassem. A pequena criatura abriu sua boca e um som, como uma enxurrada de
boas sensações banharam os ouvidos de Ian.
– Você
é aquele ao qual o mundo pode contar. Sua linhagem é pura e suas ações sempre
se dirigem ao bem. Traga o balanço para esse mundo, o proteja, exporte os
sentimentos que vocês tanto preservam aqui dentro. AJUDE-ME. – Durante o
pequeno discurso, Ian percebeu que a boca do pequeno ser não se mexia, era como
se ele falasse diretamente em sua mente, diretamente em seu interior.
Ao finalizar,
a palavra final ficou repetindo em sua mente, ele então percebeu que esse mesmo
ser havia estado em seus sonhos, havia sido o responsável pela sua insônia e o
desespero que havia acordado algumas noites atrás. Com muitas perguntas em sua
mente e o pequeno ser em seus braços, ele abriu a boca para indagar sobre este
ou aquele assunto, mas não conseguiu falar nada quando percebeu que o pequeno
ser começou a dissolver-se em suas mãos, a tornar-se ar, poeira, desintegrar em
pleno ar. Desesperado com a situação, ele tentou se agarrar com os poucos
pontos do corpo que se encontravam ainda em matéria, mas estes também foram se
desvencilhando rapidamente. Atônito, ele avaliou ao redor e viu que tudo a sua
volta também começava a se dissolver.
–
Espere, não vá, diga-me ao menos quem você é, o que é esse lugar, como vim
parar aqui, e porque eu, o que eu fiz. Como saio daqui, eu vou morrer, eu
morri? – Suando frio Ian viu o mundo a sua volta se esfarelar e nada do que ele
pudesse fazer parecer servir. Então seu próprio corpo começou a se decompor, a
virar poeira e sua mente começou a viajar para longe da matéria. Porém segundos
antes de todo seu corpo se desligar da sua mente, a voz doce e delicada
sussurra em sua mente, enquanto lágrimas escorriam de seu rosto quente:
– Muitas
perguntas, pouco tempo. Mas converse com seu pai, sou o Celebi.
Como na
manhã do ataque dos morcegos ao campo de trigo, mais uma vez Ian acorda
assustado e suado, porém dessa vez sua cabeça está estourando de dor e flashes
estavam repetidos incessantemente em sua cabeça, e o nome CELEBI não para de
repetir nos seus ouvidos. O Charmeleon deu um salto ao ver a reação do seu
companheiro e ficou de sentinela, com suas garras e presas a mostra e suas
escamas refletindo o lindo arrebol que ocorria no horizonte, juntamente com
algumas cores disformes e de tonalidades randômicas provocadas por uma segunda,
tão bela e intensa quanto à primeira, aurora boreal nos céus de toda a extensão
da vila.
Um
barulho de animais correndo foi ouvido e uma poeira levantada a alguns metros
de distância de Ian e do Charmeleon. Com seu treinamento e alta destreza em
escalar as árvores, os dois sobem na copa do grande Carvalho ao qual eles
estavam descansando, o que possibilita uma boa visualização de todo o terreno.
Eles observam que um grupo de Tauros entrou
em debandada contra um pequeno celeiro no meio da estrada. Um pequeno grupo de
pessoas estavam no celeiro, mas vendo a súbita e descontrolada aproximação,
fugiram rapidamente para uma alta colina, dando tempo somente de chegarem ao
local para assistir sua construção sendo destroçada e consumida por poeira,
depois que a debandada de Tauros passou no local. Segundos após toda a
destruição, Ian percebe que o grupo de Tauros simplesmente para, todos os
Pokémons ficam confusos, encaram um a outro e simplesmente marcham em silêncio
e calma para os campos dos quais haviam debandado.
Ao
perceber que este pode não ser um evento simplório ou uma baita coincidência
com o ataque anterior, Ian desce rapidamente da árvore, seguido pelo Charmeleon
e os dois seguem direto para a vila, para um encontro com o “Pastor”, onde ele
tentará entender ou descobrir o que e o porquê do Celebi profetizar tais
acontecimentos e quem é este Celebi, será uma aparição criada por sua mente, um
fantasma ou talvez um Pokémon.
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